Análise à importância atribuída no PADDE da Escola Secundária Infanta Dona Maria no desenvolvimento, aplicação e integração do Projeto MAIA
Análise à importância atribuída no PADDE da Escola Secundária Infanta Dona Maria no desenvolvimento, aplicação e integração do Projeto MAIA - Monitorização, Acompanhamento e Investigação em Avaliação Pedagógica - como fator basilar atribuído pelo Orgão Unipessoal de Gestão Escolar, diretora Cristina Ferrão.
A aplicabilidade do Projeto
MAIA na nossa escola foi bastante afetada pela evolução da Pandemia, não apenas
no que se refere à sua consecução mas também na sua concretização. Os docentes
fizeram um esforço extraordinário, dadas as circunstâncias que todos
conhecemos, na concretização dos Critérios Gerais de escola, que foram
aprovados em outubro de 2020, e dos critérios específicos por ano e disciplina,
firmados após vários reajustamentos em novembro de 2020, tendo por base a
filosofia do Projeto MAIA. Em abono da verdade, se através do ensino presencial
já seria espectável encontrar as resistências naturais da Comunidade à
consecução inicial de um Projeto com as especificidades do MAIA, em qualquer
meio a distância isso provou-se ser bem mais complexo.
Domingos Fernandes
preconiza um novo paradigma ou Filosofia para o Sistema Educativo ao afirmar
que “a escola deve ser uma escola para pensar e para aprender a pensar.”
(Webinar
MAIA de 29 de Abril). Está subjacente ao seu pensamento
uma ideia de “reformar” ou “transformar” a própria sociedade, desígnio que só
se conseguirá alcançar se nele se basear a reforma da educação.
Em
artigo publicado no vol. 54 da revista Portuguesa de Pedagogia, e citando Gianluigi Segalerba, Oleg
Yurievich Latyshev-Maysky, (2020), nenhum sistema educacional é neutro no que diz respeito
à organização das sociedades. Visto todos os sistemas educacionais visarem
formar um tipo particular de sociedade através da formação de uma mentalidade correspondente
nos indivíduos, Domingos Fernandes propõe a alteração da forma de pensar a
própria “dinâmica” da escola. Senão vejamos: os fundamentos éticos e políticos
de uma sociedade refletem-se no seu sistema educacional, portanto qualquer
reforma da sociedade deve começar com a reforma de seu sistema educacional,
algo que julgamos ser evidente nesta transformação paradigmática e até
dogmática do processo de Avaliação de todo o sistema.
A
avaliação deve estar focada nas aprendizagens e nas competências que estão
previstas no currículo. É fundamental que este desígnio seja
passível de ser concretizado com algum grau de eficácia. Julgamos, contudo,
existir uma barreira de dificílima transposição e que se prende com os
extensíssimos programas e currículos escolares, com cargas horárias muito
densas, em alguns casos, e claramente desajustadas na maioria dos outros casos,
o que torna o processo de avaliação pedagógica focada nas aprendizagens e nas
competências previstas no currículo uma constante miragem de difícil
materialização.
Ensinar
é uma tarefa profissionalmente exigente. (…) O ensino deve ser encarado como
uma profissão que exige um conjunto complexo de conhecimentos, mas também como
arte. A componente de encararmos o ensino como uma arte, que nos dá a liberdade
e apela à improvisação, que apela à nossa intuição tal como fazem os
artistas,(…). A ideia, o ideal e a prática de uma escola com
as características da Escola Cultural é aquilo que está implícito nas palavras
de D. Fernandes ao apontar como o perfil de profissional, o de professor cosmopolita,
poeta, artista, realizador, livre, com capacidades de improvisação, talvez à
imagem de Keating em Dead Poets Society. Esta escola é objeto
de um desejo profundo da nossa comunidade educativa, sem dúvida, e da nossa
própria sociedade, quero acreditar. Todavia, dela não desenhámos no passado –
nem no plano do pensamento nem no da ação – mais do que um esboço. Cumpre,
pois, que a pensemos em todos os aspetos e consequências e lhe dêmos
concretização prática. E chegados aqui, coloca-se uma importante questão: Mas como?
Esta
profissão exigentíssima e para a qual são necessários profissionais altamente
qualificados, é mal paga, tem sido denegrida pelas sucessivos governos e
governantes que alteraram profundamente a matriz da escola, com a agregação em
Mega Agrupamentos, com o inadequado processo de colocação de professores, cada
vez mais tardio e desfasado no tempo, com a degradação da carreira docente, com
o congelamento das progressões e a criação de cotas de mérito, com o regresso
do órgão unipessoal e a perda da democraticidade das instituições escolares,
com o injusto e opaco processo de avaliação de professores, com o aumento de
carga horária e do número de alunos por turma, com o aumento exponencial da
burocracia que nenhum Simplex conseguiu (ainda) resolver, só para citar algumas
das dificuldades ou constrangimentos sentidos na prática diária da nossa
exigentíssima profissão. Dentro de muito pouco tempo, diremos mesmo, no espaço
dos próximos cinco anos, um número significativo de docentes atingirá a idade
da reforma e outros tantos apresentarão pedidos de aposentação antecipada. Este
é um sinal dos tempos, e para o qual não tem existido resposta à altura. O
sistema não prepara novos profissionais capazes de revitalizarem o sistema, até
porque raros são aqueles que hoje desejam abraçar a carreira docente.
Entendemos
que a chave da Reforma do Sistema Educativo é, e sempre foi, a reforma da
própria escola. Contudo, a reforma da escola é apenas integralmente concebível
e realizável no quadro do Sistema Educativo na sua totalidade e não há nem
nunca existiu reforma possível sem uma aposta decisiva nos professores e na sua
formação, com todas as implicações no plano do respetivo estatuto social e
profissional.
A introdução
do novo no já existente é tão difícil e grave para qualquer educador, professor
e profissional da educação em geral. Este novo torna-se ainda mais difícil de
aceitar e de concretizar numa escola com uma matriz tão consolidada e
consubstanciada ao longo das décadas como é a Escola Secundária Infanta Dona
Maria. Os seus resultados têm sido de excelência por isso, ou melhor, também
por isso, existe grande resistência por parte de toda a comunidade, e um compreensível
receio com a introdução e a prática de uma nova Filosofia de trabalho, de classificação
e de avaliação pedagógica dos alunos.
Enquanto
as “notas” validarem acessos ao ensino superior e delas estiverem dependentes
as vidas de todos os alunos, a “felicidade” dos nossos estudantes estará
condenada ao fracasso. Aprender não se consegue pelo preço inevitável da
felicidade, algo que esta Pandemia conseguiu tornar ainda mais visível. A
aprendizagem autêntica, perfeita, é por inerência um processo de felicidade. A
escola deveria ser esse espaço de felicidade, mas não se aprende sem dor pois
não se vive sem dor. A dor é um elemento estrutural da vida humana. A escola é
o lugar cultural onde uma experiência de plena aprendizagem pode e deve
realizar-se, e deve(ria) ser uma verdadeira oficina de humanidade. Por isso não
faz qualquer sentido atribuir um valor, um nível ou uma nota como classificação
final dos alunos, mas é esse valor, ou nível, ou nota que, de maneira
inclemente, declara e sinaliza as suas esperanças e o(s) seu(s) futuro(s).
Do Tempo
Uma das
mais importantes variáveis para o cabal conseguimento destas práticas de
mudança é, não tenhamos disso a mais pequena dúvida, o fator Tempo.
Poderíamos
apontar a constante e permanente falta de tempo sentida pelos professores,
enquanto profissionais altamente qualificados que o são, para se dedicarem à
investigação, mas decidimos antes dedicar um pouco do nosso tempo a equacionar e
elancar alguns cargos e tarefas exigidas a todos os docentes no dia-a-dia da
sua prática profissional:
Direção
de Turma, reuniões com Encarregados de Educação, atendimento a Encarregados de
Educação, Coordenador de Diretores de Turma, reuniões de Conselhos de Diretores
de Turma, Coordenador de Departamento, reuniões de Departamento, Representante
de Grupo Disciplinar, reuniões de Grupo Disciplinar, reuniões de Conselho Pedagógico,
reuniões gerais de Professores, reuniões de grupos de trabalho no âmbito das
equipas de Flexibilidadade Curricular, reuniões de equipa de Educação Especial,
reuniões Intercalares e reuniões Finais de avaliação de Conselhos de Turma,
reuniões de preparação dos Exames Nacionais, Serviço de Vigilância de Exames Nacionais,
Correção de Exames Nacionais, Secretariado de Exames, Gestão e Direção das
escolas, membros da equipa encarregue da elaboração de horários, membros da
Seção de Avaliação do Desempenho Docente, Avaliador externo no âmbito do
processo de avaliação do desempenho docente, professor Formador, participação
em ações de formação exigidas para progressão na carreira docente, Presidente
do Conselho Geral, reuniões do Conselho Geral, professor Tutor, professor Substituto,
professor responsável por Clubes, por Oficinas, por candidaturas a intercâmbio
Erasmus, pelo Desporto Escolar, pelo Plano Nacional de Leitura, pelo Plano
Nacional do Cinema, e outras tantas tarefas que, seguramente, conseguiríamos ainda
acrescentar às já aqui mencionadas.
E aqui
chegados, somos confrontados com duas pertinentes questões:
- Onde é que fica, afinal, o Tempo
necessário para essa tarefa tão importante que é ensinar?
- Como
podemos nós, profissionais neste setor, alcançar e promover o preconizado nas
palavras de D. Fernandes perante uma tão grande burocratização de um Sistema de
Ensino, devoradora e consumidora de Tempos preciosos a todos os docentes?
Entendemos a importância e
necessidade de referir todas estas variáveis, mencionar estudos, indícios e/ou
indicadores, no que à Comunidade Escolar diz respeito, deste verdadeiro momento
histórico que todas as sociedades estão hoje a atravessar. Sem este
enquadramento será extremamente difícil tentar avançar na concretização dos
objetivos plasmados no Projeto de Intervenção MAIA, não apenas na nossa escola,
mas em todas aquelas onde ele se deseje implementar.
A definição deste vasto
conjunto de problemas não foi produzida como um mero somatório de obstáculos, antes
pretende servir como uma tomada de conhecimento, como um retrato da realidade
em que o projeto terá de ser aplicado e desenvolvido.
Ao indicá-los partimos do
princípio, sabemos que eles existem, passamos a saber quais são as dificuldades
com que temos de contar.
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